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Minha vida após a Chapada Gaúcha

Eu iria escrever sobre outro assunto, mas ao organizar alguns arquivos no meu notebook, encontrei essas fotos. Me fez lembrar do aprendizado em relação à gratidão, entrega, mudança de comportamento. Se há algum curso de Gestão, Trabalho em Equipe e Humanidade, esse é o que eu recomendo: fazer missão ou ao menos a viagem missionária.

Não irei contar os detalhes dos motivos pelos quais me levaram a realizar essa viagem missionária em junho de 2014, mas posso dizer que alguém lá de cima cochichou no meu ouvido: é agora, vá. E fui. Vivi um dos momentos mais inesquecíveis da minha vida junto aos colegas viajantes missionários e com o povo da distante Chapada Gaúcha.

Essa cidade de aproximadamente 12 mil habitantes, localizada no semi-árido Norte Mineiro, que faz divisa com o estado da Bahia. Chapada está longe das cidades, quase só. A cidade mais próxima está a 85 quilômetros e as demais, na média dos 120 quilômetros. Para chegar lá foram quase 17 horas de viagem dentro de uma van entupida de viajantes missionários.

No caminho, parte das vias de acesso não são providas de asfalto. Economicamente, a Chapada caminha para um desenvolvimento agro-silvo-pastoril acelerado, saindo de uma condição exploradora extrativista para outra econômica e tecnológica.

Ação do Coração:

Lá, junto ao grupo de voluntários, tivemos alguns trabalhos marcantes que sim, podemos chamar de trabalho pelo coletivo. Cada um praticamente tinha um papel a ser desempenhado, mas quando nos víamos estávamos ajudando uns aos outros em prol de um bem comum: contribuir de alguma maneira com melhorias para o lugar. Foram ações feitas na pequena escola e salas localizada atrás da Igreja Batista, realizamos mutirões de melhorias nas igrejas dos bairros Angical e Rio dos Bois, ministramos palestras para as mulheres da cidade e do campo, enquanto as crianças também tinham atividades para se distrair. Há, sem me esquecer que tivemos uma dentista maravilhosa que cuidou dos dentes da comunidade e a entrega das doações de brinquedos, utilidades e, pense: escova e pasta de dente. Para algumas pessoas, aquela era a única escova e pasta que duraria meses em sua utilização.

O carro foi cheio de brinquedos, roupas, utensílios, equipamentos, computadores e tantos outros objetos para contribuir com o desenvolvimento da comunidade local.

Aprendizado para a Vida:

Muitas vezes foram as mulheres da comunidade do Angical e do Rio dos Bois que me ensinaram a viver momentos de comunhão, de parar por um tempo e se dedicar a comer um delicioso bolo trazido na bacia, e o delicioso cafezinho feito na roça. A dar o valor nessa genuína simplicidade de viver.

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Muitas vezes foram essas mesmas senhoras, pessoas mais simples, bem distante dessa realidade que vivemos dos shoppings, de gente burguesa, metida na roupa, sapato e bolsas caras, que me desafiaram a conversar com elas sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis e Câncer de Mama, utilizando bonecas para que pudessem se sentir confortáveis sobre o tema e para que pudessem dar algumas boas risadas enquanto eram orientadas sobre o auto-exame das mamas.

O desafio foi enorme! Falar com senhorinhas, sem que se ofendessem, sem que se levantassem dali e saíssem da palestra, sem que saíssem sem entender nada! Foi meu ápice na decodificação da comunicação. E no final, pois é, ainda tivemos a visita surpresa de uma aranha caranguejeira imensa, que foi retirada por algumas crianças, filhos dessas senhoras.

Há quem curta brincadeiras. Eu amo! Nunca imaginei que bexigas e sobras de cata-ventos da custosa festa do meu filho pudessem ser a diversão das crianças! Foi emocionante observar a carinha e o carinho deles, as risadas, as trocas... e bem ali, de repente, uma coruja de 15 centímetros também nos observava com seu olhar esbugalhado!

Andar atrás dos carros nas estradas de areia fofa para chegar nas comunidades do Angical e do Rio dos Bois foi uma experiência divertida e amedrontadora. No terceiro dia, o carro atolou, o motorista não conseguia retirar a roda, ele e outros colegas ficavam falando da onça que tinha na região, fora os escorpiões, que vinham na minha cabeça. Pavoroso, intenso e desafiador!

Também me lembrei que aprendi a fazer pintura nesse lugar. Foi nas salinhas das crianças, que aprendi a pintar as paredes, depois as mesas e as cadeiras, onde, tempos depois foi usada pelos pequenos para estudar. E nunca eu tinha pintado sequer um vaso, muito menos uma parede. Hoje faço vários tipos de pinturas, inclusive em móveis. Dia desses posto aqui para repartir!

A gente aprende a lidar com medos internos, a enfrentar as situações da falta de recursos dos quais estamos tão acostumados.Talvez seja porque essa experiência do mais com menos é mais uma das quais vivi. Meu filho estava com catapora e quase não fui à viagem. Poderia ter surtado à distância, até porque quando cheguei, dava para contar nos dedos os telefones que tínhamos à disposição, neste caso, para saber sobre a saúde do meu pequeno. Havia somente um à disposição na casa do pastor. Claro, a ligação era uma no dia, ou melhor, à noite, o suficiente para saber se todos estavam bem, se meu filho estava bem, e se eu poderia dormir em paz .

Pode parecer boba essa situação, mas naquele momento senti imensa gratidão do pastor me emprestar o telefone para saber do meu filho e assim poder continuar a missão que tinha comigo naquela cidade.

Há muitas histórias a se contar das experiências vividas na Chapada Gaúcha, dos poucos colegas que fiz, dos medos vencidos, das histórias de vida de pessoas que conheci, mas volto a contá-las em breve.

Ainda bem que temos a mente para nos fazer lembrar de momentos que marcam nossa vida. A Chapada, suas famílias e as pessoas as quais conheci ficarão marcadas eternamente na minha história de vida, porque sim, fizeram a diferença da minha existência!

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