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Tião Santos, exemplo de líder e humanidade

Tião Santos, ex-catador de recicláveis, esteve no último mês em São José dos Campos, durante o 6ª Congresso Meeting Empresarial Vale do Paraíba, e trouxe um pouco da sua história humana no antigo lixão de Gramacho, Rio de Janeiro. Santos soube bem aproveitar a “fama”, por ser um dos protagonistas do documentário “Lixo Extraordinário”, indicado ao Oscar e usou isso a seu favor para conscientizar sobre o descarte de lixo no país.

Santos contou sobre sua luta de acabar com o estereótipo depositado no catador de lixo e do quanto a importância da valorização do catador de material reciclado fez a diferença no comportamento da sociedade e de quem recolhe os lixos. De gerar o sentimento de orgulho e de profissão.

Em vários momentos fez a plateia, formada pela elite empresarial da região, se emocionar. “Difícil não foi nascer no lixo. Difícil foi não virar lixo, comentou num dos momentos, uma frase que está na capa de seu livro ‘Tião – do lixão ao Oscar’, escrita por seu irmão e revelada pelo autor.

Tião conviveu com o chorume do lixo por muitos anos. No livro traz sua história desde o dia que pisou no aterro sanitário Gramacho (hoje desativado) até o dia que conheceu o artista plástico Vik Muniz (um dos diretores que produziu a Abertura dos Jogos Paralímpicos).

Santos concedeu uma breve entrevista ao Blog e abre com a importância do legado deixado por sua mãe, dona Geruza.

Kika- Tião, qual o legado de atitude de liderança que sua mãe, uma figura tão importante na sua vida, deixou para você?

Tião- Eu acho que o maior legado que a minha mãe deixou para mim é o sentido do papel de um líder, que é o desejo de atender aqueles que confiaram em você. A responsabilidade de votar num Tião, num José, num Alfredo ou na Maria, em votar para liderança, é porque eles confiam em você. É a responsabilidade no papel. Minha mãe nunca foi uma pessoa vaidosa. Minha mãe me ensinou que eu sou Sebastião Carlos dos Santos, eu sou esta pessoa. Se eu estou presidente e se amanhã eu não continuar sendo presidente, eu vou continuar sendo o Sebastião Carlos dos Santos. E é o que eu deixo enquanto pessoa? Porque é dessa pessoa que vão lembrar. O cargo de prefeito ou de diretor, isso você ocupa, como outras pessoas podem ocupar. Então, acho que esse foi o maior legado que minha mãe deixou para mim.

Kika- O que é para você, Tião, humanização das relações nesse mundo de tanta intolerância?

Tião- Eu acho que humanizar é quando a gente olha o outro como Steven falou... quando o deficiente brinca com a deficiência dele é porque ele já superou. Começar a olhar as coisas com olhar humano, sem diferenciar as classes... Se ele é deficiente, é menos incapaz, é menos competente, claro que não! É preciso olhar as pessoas como igual. E o igual não está naquilo que ele exerce, como eu falei... ser médico não quer dizer que seja melhor do que o cara que é catador de material reciclável, porque a profissão, enfim, todas tem seu valor, porque elas estão ali para servir e ajudar no nosso desenvolvimento enquanto sociedade. Mas a gente só vai melhorar quando eu conseguir ter o olhar como igual. Quando eu conseguir olhar o deficiente como igual a mim, quando você olhar um catador de material reciclável igual a você, e quando eu consigo olhar o médico... é aí que o igual está em todos os sentidos. Falar que só a classe pobre é quem sofre preconceitos é mentira. Há muitos rótulos com várias profissões e pessoas também. A gente quer tratar igual, mas não suporta ver o diferente, e isso é o que gera a intolerância, é a pior coisa que a gente tem. Eu quero aceitar, mas não suporto ver. Como assim? É incoerente e é muita hipocrisia isso.

Kika- Você disse que o Vik Muniz teve um papel importante na sua vida no antes e no depois do Oscar. Como retirar o “pobre” do seu próprio “lixão”? O que a classe média pode fazer para mudar esse cenário enquanto sociedade?

Tião- Eu falei de R$ 8 bilhões que o Brasil não recicla. Então, como tirar? Quando a gente começar a olhar o catador com o valor que ele tem! Quando eu olhar o material reciclado com o valor que ele tem! Quando eu olhar com essa maneira que os R$ 8 bilhões vão se transformar em emprego e renda, os lixões serão excluídos do Brasil, não existirá mais. O que existirá vai ser a reciclagem como desenvolvimento social. Quando eu olhar com esse olhar, eu vou deixar de ver o catador como miserável e um ‘ser’ que não quer nada na vida, como um ‘marginal’. Quando eu olhar com esse olhar, eu vou ter uma sociedade justa, igual e desenvolvida socialmente e ambientalmente. Eu retiro o olhar do material reciclado como lixo e das pessoas que trabalham com ele como mais lixo ainda! Daí sim, eu acho que a gente vai ter uma sociedade muito melhor.

Kika- Você trouxe um pouco do sonho e quem não tem sonho é uma inquietação. Como tornar nossos sonhos reais?

Tião- É muito simples. Ver e crer são a mesma coisa. Quando eu li o livro a Escola dos Deuses, o autor fala do sonho verdadeiro, esse sonho pragmático, esse sonho possível. Mesmo que ele ainda não tenha acontecido, é preciso estar real na sua mente. Se ele ainda não aconteceu, é porque não é o exato momento, porque ele ainda está acontecendo no seu interior. Se o sonho não está realizado interiormente, ele nunca vai se materializar exteriormente. É no interior que o sonho nasce. É dentro de você que o sonho se cria. Aí, tudo aquilo que você criou dentro se torna físico e real no externo.

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